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quinta-feira, setembro 17, 2009

LENDAS PORTUGUESAS - A LENDA DA NAZARÉ

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Lenda da Nazaré

REPRESENTAÇÃO SETECENTISTA DO SANTUÁRIO DA NAZARÉ
Conta a Lenda da Nazaré que na manhã de 14 de Setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, caçava nas suas terras do litoral quando avistou um veado, e o começou a perseguir. De súbito, ficou tudo encoberto por um denso nevoeiro que se levantava do mar. O veado (na versão popular, uma materialização do demónio) dirigiu-se para uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros

Quando o cavaleiro se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta na qual se venerava uma imagem de nossa Senhora a amamentar o Menino e então rogou, num grito desesperado, à Virgem Maria: Senhora, Valei-me!



Imediata e milagrosamente o cavalo estacou fincando as patas no bico rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.

Após ter descido à gruta para agradecer o milagre, o cavaleiro mandou chamar pedreiros e permaneceu no local até começar a ser erigida sobre a gruta, em memória do milagre, uma pequena capela, a Capela da Memória, para ali ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem.

Quando os pedreiros antes de entaiparem a gruta desfizeram o altar ali existente, encontraram um cofre em marfim, contendo algumas relíquias e um pergaminho no qual se relatava a história da pequena imagem esculpida em madeira, representando uma Virgem Negra sentada a amamentar o Menino.

Segundo o pergaminho a imagem terá sido venerada desde os primeiros tempos do cristianismo em Nazaré, na Galileia, tendo sido salva no século V, dos movimentos iconoclastas, pelo monge grego Ciríaco. Este transportou-a até ao mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida, onde permaneceu até 711, ano da batalha de Guadalete, após a qual desbaratadas pelos muçulmanos , as forças cristãs fugiram para Norte. A imagem foi então trazida por Frei Romano, monge de Cauliniana, e por D. Rodrigo, o último rei Visigodo para o litoral Atlântico onde permanece desde essa época, no mesmo sítio, o Sítio (de Nossa Senhora) da Nazaré.


Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir uma igreja, perto da capela, para onde foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré.

A popularidade dessa devoção, à época dos Descobrimentos portugueses, era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, que viria a descobrir o Brasil, vieram em peregrinação à Senhora de Nazaré.

Na mesma época a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, permaneceu no Sítio da Nazaré alguns dias, em 1520, num palácio de madeira especialmente construído para a ocasião. Alguns anos depois, S. Francisco Xavier, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré antes de partir para Goa.

Os três séculos seguintes foram de grande expansão para o culto de Nossa Senhora da Nazaré, tanto no seu Santuário, como em Portugal e no "mundo dos portugueses" da época, onde ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem.

No início do século XVII, o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré fundado por D. Fernando começou a ser reconstruído e aumentado, tendo as obras sido prolongadas por várias empreitadas até finais do século XIX.

Até hoje, a tradição aponta aos visitantes a marca deixada por uma das patas do cavalo de D. Fuas na ponta do Bico do Milagre, do lado da Capela da Memória, no Sítio da Nazaré.


Iconografia
As representações do Milagre da Senhora da Nazaré a D. Fuas Roupinho são inúmeras sendo de destacar a gravura anónima no livro de Brito Alão (1628), a tela do arcaz da sacristia do santuário, assinada por Luís de Almeida (séc. XVII), a diversificada colecção do Museu Dr. Joaquim Manso, no Sítio, o vitral na capela da Quinta da Regaleira, em Sintra, o mural de Almada Negreiros na gare marítima de Alcântara, em Lisboa, e os muitos painéis de azulejos nas fachadas das casas da vila da Nazaré.

Na gravura anónima do milagre no livro acima referido (1628) aparece o cavaleiro no Bico do Milagre mas a imagem não está representada. Na tela da sacristia a imagem aparece pintada no interior da gruta. Nas representações posteriores aos finais do século XVII, o milagre atribuído à presença de uma imagem mariana passa a ser sistematicamente representado como uma aparição mariana, na qual a Senhora da Nazaré levita acima e à frente do cavaleiro, no momento em que este está prestes a precipitar-se do topo da falésia. Numa excelente aguarela, (c.1982), no acervo do Museu do Sítio, Mário Botas pintou duas vezes a Senhora, na gruta e a levitar, retomando assim a representação histórica à qual aliou a versão popular.

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