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República Juliana
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República Juliana, também conhecida como República Catarinense, foi um estado republicano proclamado dentro do território do atual estado de Santa Catarina, em 24 de julho de 1839, e que perdurou até 15 de novembro do mesmo ano. Foi uma extensão da Revolução Farroupilha, iniciada na província vizinha do Rio Grande do Sul, onde havia sido proclamada a República Rio-Grandense. A República Juliana, proclamada por Davi Canabarro e Giuseppe Garibaldi, formou uma confederação com a república vizinha, porém, sem condições de expandir-se pela província de Santa Catarina, não conquistando a Ilha de Nossa Senhora do Desterro, sede provincial do governo imperial, em novembro do mesmo ano - quatro meses após sua fundação, propiciaram-se condições para que as forças do Império retomassem Laguna, cidade-sede do governo republicano. No planalto, Lages aderiu à revolução, mas submeteu-se no começo de 1840.
A preparação
A Marinha Imperial Brasileira controlava os principais meios de comunicação dos farrapos, a Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande e a maior parte dos rios navegáveis. Foi preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina.
O primeiro passo era constituir a marinha rio-grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais.
O plano era criar um estaleiro em Camaquã, trazer os barcos pela Lagoa dos Patos até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar.
Foram construídos, os lanchões Seival e Farroupilha, que após pouco tempo na Lagoa dos Patos, eram fustigados pela retaguarda pelo temível John Grenfell, Comandante da Marinha Imperial na Província. Despistando conseguem enveredar pelo estreito do Rio Capivari, iniciando o caminho difícil por terra, por causa das chuvas invernais, que haviam tornando o chão um grande lodaçal.
Além disso, a região sul de Santa Catarina, já era desde 1836 um local frequentado por refugiados do Rio Grande do Sul, que fugiam da revolução, apesar de a apoiarem. Alguns dos refugiados aproveitavam para contrabandear pólvora e armamentos para a República.
A Tomada de Laguna
A 14 de Julho de 1839 os lanchões rumavam a Laguna, sob o comando geral de David Canabarro. O Seival era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como “João Grandão”, e o Farroupilha comandado por Garibaldi
Na costa de Santa Catarina, próximo ao Rio Araranguá, uma tempestade pôs a pique o Farroupilha, salvando-se uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi.
Finalmente atacaram por terra, com as forças de Canabarro, e por água. Entrando em Laguna através da Lagoa Garopaba do Sul, cruzando a Barra do Camacho, passando pelo Rio Tubarão e atacando Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa. Garibaldi com o Seival, tomou Laguna, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de Julho de 1839. A 29 de julho de 1839 proclama-se a República Juliana, para a preservação do porto em mãos republicanas. O nome "Juliana" refere-se ao mês da proclamação.
Após conquistar Laguna as forças farroupilhas continuaram avançando para o norte, perseguindo as tropas imperiais, avançaram cerca de 70 quilômetros até a planície do rio Maciambu. O avanço foi contido devido a um entrincheiramento das forças imperiais protegido pela geografia do Morro dos Cavalos, que dificultava o acesso das tropas farrapas e lhes bloqueava o avanço para o ataque à Desterro, hoje Florianópolis.
Os farroupilhas fizeram incursões mais ao norte, chegando a atacar a barra de Paranaguá, em 31 de outubro de 1839. Uma escuna e um lanchão farroupilhas capturaram a sumaca Dona Elvira, porém foram combatidos pelos canhões da fortaleza e obrigados a retroceder. A escuna recuou rumo ao norte, porém o lanchão, mais pesado, por ali parou e foi capturado por uma lancha com vinte homens comandada pelo alferes Manuel Antônio Dias e a lancha Dona Elvira foi recuperada.
A República
Com a tomada de Laguna, praticamente metade da província catarinense ficou em mãos republicanas e com a incorporação da vila de Lages, também sob controle rebelde, ao novo estado, o território da República Juliana se estendia do extremo meridional até o planalto catarinense.
Foi então a organizada a República Juliana, sendo convocadas eleições para constituição do governo. Canabarro ficou à frente do governo da nova república até 7 de agosto de 1839, quando foi convocado o colégio eleitoral. Foram eleitos para presidente o tenente-coronel Joaquim Xavier Neves e para vice o padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro, como Xavier Neves estava em São José bloqueado pelas pelas forças imperiais, o padre Vicente Cordeiro assumiu a presidência.[1]
Foi também montada uma estrutura para organizar e dirigir os assuntos de interesse do novo estado, ministros foram nomeados para as diversas áreas. A administração geral ficou a cargo de seu secretário de Estado, o italiano Luigi Rossetti. Antônio José Machado, juiz de paz, foi nomeado para o Conselho Governativo da República Juliana.
A República enfrentou uma série de dificuldades em seus quatro meses de existência, foram enfrentados problemas econômicos e políticos, além dos militares, com falta de pessoal e de recursos.
Apesar de toda mercadoria do porto ter sido apreendida e de todo o dinheiro abandonado na vila durante a fuga das tropas e do governo imperial, uma das primeiras medidas tomadas pelo Secretário de Estado foi solicitar ao governo da República Rio-Grandense um empréstimo. [1] Para piorar a situação, a marinha imperial promoveu um bloqueio ao porto de Laguna, estrangulando o comércio e a comunicação da vila com o exterior.
Os revolucionários mantiveram por um longo período a pressão sobre Desterro. Ainda em 11 de setembro ocorre a revolta da guarnição da Fortaleza da Barra do Sul, localizada no extremo sul da Ilha de Santa Catarina, onde os militares imperiais rebeldes matam o alferes reformado Pedro Fernandes e deixam os revolucionários tomar posse da Fortaleza. Praticamente toda a guarnição da fortaleza, composta aproximadamente de 50 soldados, entre praças e oficiais, unem-se aos farroupilhas levando boa parte do armamento, munição e da pólvora existente. Entretanto já no dia 13 a fortaleza se encontrava novamente sob domínio imperial.[1] A rebelião tinha sido incitada por João Rebelo de Matos, Bento José Roiz, José Pinto Ribeiro, João Francisco Régis, todos transferidos da Bahia e envolvidos na Sabinada, com o estopim sendo os constantes castigos físicos ordenados pelo comandante da fortaleza, José Joaquim Pereira. No final de outubro se retiraram para o sul.
Nesta epopéia, Giuseppe Garibaldi conhece Ana Maria de Jesus Ribeiro , que passa a ser sua companheira nas lutas e na vida: surge então a lendária Anita Garibaldi.
O fim da República
O bloqueio do porto e a continuada presença de tropas em Laguna, afetou interesses particulares e acabou por levar a população contra os republicanos. A falta de gêneros como sal e fumo, além da dura repressão farroupilha, levaram à deserção de lagunenses das linhas de frente e dos batalhões de defesa da vila passsou às centenas. No início de novembro de 1839, os habitantes da Freguesia de Imaruí se revoltaram contra os rebeldes rio-grandenses. Garibaldi foi encarregado de combater a rebelião, que foi reprimida com força
Os farroupilhas preparavam um ataque à ilha do Desterro, hoje Florianópolis, mas as forças imperiais contra-atacaram de surpresa, com força total. A frota da República, preparando-se para a invasão de Desterro, foi descoberta na foz do Rio Maciambu e destruída.
Comandados pelo novo presidente da província, General Andréa, mais de 3.000 homens por terra, e por mar, uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, retomam Laguna a 15 de Novembro de 1839, expulsando os revolucionários.
Terminou assim a República Juliana, porém a República Riograndense, confederada a esta, durou até 1 de março de 1845, quando é celebrada a paz pelo tratado de Ponche Verde, e a república integra-se ao Império do Brasil.
No Museu Anita Garibaldi, em Laguna, está exposta uma Nota Promissória de vultosa quantia para a época, assinada pela República Juliana em favor da República Rio-Grandense. Ao lado constam os seguintes dizeres: "A República Catarinense já nasceu devendo."
Em 1845, a província de Santa Catarina, já inteiramente pacificada, recebeu a visita do imperador D. Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina.
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