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quinta-feira, fevereiro 18, 2010

HISTÓRIA DO BRASIL - LÍNGUAS - PERIODO PRÉ CABRALINO RECENTE

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O Período Pré-Cabralino Recente

Enquanto a maior parte da pesquisa sobre o Brasil mais antigo analisava principalmente os vestígios materiais deixados por esses povos, o Brasil pré-cabralino recente é mais estudado através das línguas nativas. Com efeito, o estudo sobre as línguas nativas permite compreender inúmeros aspectos das culturas pré-cabralinas, além de seus parentescos históricos e de suas migrações. Quando os cronistas europeus descreveram os antigos povos brasileiros, utilisaram sobretudo denominações linguísticas e, graças ao trabalho missionário de alguns jesuítas, temos hoje conhecimento das antigas línguas brasilicas (que deram origem às línguas indígenas modernas).

Resta-nos, contudo, a tarefa de associar os achados antigos aos povos recentes, que conhecemos principalmente a partir de grupos linguísticos. Um estudo desse tipo não foi realizado no Brasil ainda. Apenas um grupo pré-cabralino recente foi associado suficientemente aos achados antigos: os grupos da família linguística Tupi-Guarani. Estes, na época da chegada dos europeus, dominavam o atual litoral brasileiro, conhecido por "Pindorama". Outra fonte importante para a reconstrução da história recente dos povos pré-cabralinos é a mitologia indígena. Sabe-se hoje ser possível estabelecer relações entre os elementos dos mitos e acontecimentos que consideramos "históricos". As fontes mitológicas tem sido empregadas para estudar movimentos migratórios,as relações estabelecidas entre os povos brasileiros e, por exemplo, o Império Inca, etc.

Quando os europeus passaram a ocupar a costa oriental da América do Sul, encontraram etnias vinculadas a quatro principais grupos linguísticos: os arauaque, os tupi-guaranis,os jê e os karib . Devemos tomar cuidado para não confundir grupo linguístico com grupos étnicos. Dentro de um mesmo grupo linguístico haviam numerosas e diferentes unidades identitárias possuindo dialetos, práticas culturais e filosofias próprias. Nosso conhecimento dos povos indígenas por meio das crônicas européias é limitado por diversas razões. A primeira delas, é que a imagem européia sobre os povos pré-cabralinos foi marcada por um processo de enquadramento da América em categorias européias, de forma que as crônicas nos fornecem informações mais valiosas para o estudo dos próprios europeus modernos do que para o estudo dos nativos. A segunda delas, é que as crônicas foram escritas numa época de transformação, uma vez que a entrada dos europeus trouxe doenças e influências novas para o mundo indígena, modificando consideravelmente a antiga realidade em que viviam. Por fim, as crônicas acompanham o avanço da "fronteira" européia na América, de forma que grande parte dos povos indígenas só chegaram a ser conhecidos pelos ocidentais no século XIX, após terem modificado muitos de seus costumes; é interessante notar que muitas tribos indígenas no Brasil continuam isoladas do mundo ocidental até hoje.

Macro-Tupi
Um dos grandes grupos linguísticos do Brasil, e que parece ter se expandido imensamente sobre o território brasileiro antes de 1500 é o grupo Macro-Tupi. A principal família linguística dentro desse grupo maior é a Tupi-Guarani. Esses povos devem ter primeiramente habitado a região das cabeceiras dos rios Madeira,Tapajós e Xingu. A expansão Tupi-Guarani aconteceu há 3 mil e 2 mil anos, pouco depois desse grupo ter se diferenciado de outros na região entre o Xingu e o Madeira, formando novos subgrupos linguísticos, como os Kokama, Omágua, Guaiaki e Xirinó. Os povos de língua Kokama e Omágua dirigiram-se ao rio amazonas, enquanto os Guaiaki chegaram ao Paraguai e os Xirinó à Bolívia. Tapirapés e Teneteharas se deslocaram em diração ao nordeste. Os povos de língua Pauserna, Kajabi e Kamayurá se deslocaram até a região extremo sul do Brasil. Os povos de língua Oyampi chegaram até a região das Guianas. A última fase de dispersão dos povos Tupi-Guarani ocorreu por volta do ano 1000. Os falantes de línguas associadas ao "Tupi-Guarani" estariam já instalados no sul do Brasil (Guaranis,etc.), na bacia amazônica e também no litoral do pais (potiguaras, tupinambás, tupiniquins). Os dados linguísticos nos permitem avaliar essas sociedades como expansivas e em constante movimento. Graças a uma impressionante rede de caminhos fluviais, os povos desse grupo linguístico puderam se difundir e, ao mesmo tempo, manter contato uns com os outros. O uso de canoas (ygara em tupi antigo) para navegar rios permitia o enviamento de missões militares e diplomáticas de uma região para outra.

Muitos artefatos arqueológicos do período cerâmico são filiados a esses antigos povos de matriz linguística Tupi-Guarani. Os sítios arqueológicos associados a essas populações constituíam-se em aldeias extensas, normalmente localizadas em regiões de planalto ou em terraços. Nesses sítios arqueológicos, de largura média entre 2000 e 10000 m², a cerâmica antiga é abundante. As unidades habitacionais são cabanas, que podiam alcançar até 60 m² de diâmetro. Dentro dessas cabanas foram localizadas fogueiras e fornos para cozimento. As áreas dos sítios são definidas em espaço cerimonial, publico e residencial. O espaço dos vivos é separado daquele dos mortos (muitos cemitérios antigos foram localizados). A arqueologia identificou sepultamentos em urnas e outros em terra. Artefatos líticos são encontrados junto dos sepultamentos, provavelmente objetos de uso pessoal. A cerâmica Tupi-Guarani (particularmente abundante no Paraná) é caracterizada pelos desenhos policrômicos de traços lineares.

A cronologia para a História dos povos Tupi-Guarani se baseia em teorias arqueológicas, na glotocronologia e na datação de cerâmicas identificadas aos tupi-guaranis. Como vimos pela história dos Tupi-Guarani a partir de suas línguas, o movimento de expansão ocorreu entre 3 mil 2 mil anos atrás a partir da região amazônica; a maior parte dos artefatos arqueológicos desses povos são datados entre o ano 500 e o ano 1500. A extensão para o litoral é constatada pela maior concentração de artefatos nessa região entre os séculos XI e XIII.

Macro-Jê
As línguas associadas à matriz linguística Macro-Jê devem ter sofrido diferenciação por volta de 6 mil anos atrás. Sua expansão inicia-se há 3 mil anos, pela região centro-oeste do Brasil. O grupo Jê propriamente dito é possivelmente originário das regiões das nascentes dos rios São Francisco e Araguaia. Grande parte dos povos de língua Jê se afastaram dos Kaingang e Xokleng, seguindo para o sul da região central brasileira. Alguns grupos devem ter se separado destes últimos e seguido até a região amazônica há pelo menos mil anos atrás. Os povos Jês preferiam se instalar em regiões de Planalto (como a original região do Planalto brasileiro), como nos permite constatar o estudo de suas línguas Entre as línguas do tronco Macro-Jê encontram-se: Kayapós, Xerentes, Timbiras, etc.

Karib
Os povos de língua Karib também passaram por um processo de expansão há 3 mil anos, aproximadamente. Essa família linguística é talvez originária da atual região das guianas e do extremo norte do Brasil. Os Yukpa e os Karijona, remificações dessa família linguística, teriam se diferenciado e migrado para a Colômbia, enquanto os Bakairi teriam seguido para o centro do Brasil. O emprestimo de termos Tupi nas línguas Karib (e vice-versa) aponta para a existência de redes complexas de comércio e tráfico de pessoas entre tais povos.

Arawak e outros
As línguas de matriz Arawak concentram-se hoje na região sudoeste da bacia amazônica. A principal família linguística associada a esse grupo é a Maipure, dividida em quatro subgrupos regionais. Existe grande polêmica em relação ás origens, às migrações e aos descendentes desses povos, além de suas relações com outros grupos linguísticos do Brasil Antigo. Outros grupos linguísticos menores, sem parentescos com os outros maiores, existem no Brasil: Mura, Chapkura, Pano, Yanomani, etc.

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