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Hugo Gonçalves
Hugo Gonçalves nasceu em 1976. Fez parte da equipa que lançou a revista Focus e recebeu o Prémio Revelação do Clube Português de Imprensa. Em 2001 saiu de Portugal. Colaborou, entre outras publicações, com a Egoísta, Elle, e Visão. Escreveu sobre Lisboa para o Jornal de Notícias e sobre Nova Iorque para o Diário Económico. O Maior Espectáculo do Mundo é o seu primeiro romance.
obras
O maior espectáculo do mundo
Coração de homem
sobre o autor de o "maior espectáculo do mundo" escreveu Helena Vasconcelos:
“O Maior Espectáculo do Mundo” de Hugo Gonçalves (Ed. Oficina do Livro, Lisboa, 2004) começa como a abertura de um telejornal. A acção é rápida, brutal e condensada, dando a visão de um mundo caótico, desavergonhadamente corrupto, caricato e perverso, uma realidade que nos acompanha de manhã à noite e se tornou tão familiar como o ciclo das estações o era para os nossos antepassados.
Surpreendente – ou talvez não - para um escritor português de 27 anos que escreveu este livro em Nova Iorque, deixando-se contaminar pelo ambiente de uma América em colapso. Na sua qualidade de jornalista, H. G., 27 anos, é um observador nato mas possui a inteligência fulgurante de tudo apreciar através das lentes distorcidas da imaginação contemporânea, completamente infectada pelo universo da imagem. Para compreender a deslocação brutal do “eu” interior para a órbita de uma sociedade em tumulto e em estado de promíscua vivência à distância de um botão ao alcance de um dedo, é interessante recrear a (possível) trajectória deste inequívoco talento que vem rasgar uma tradição intimista e incontrolavelmente reprimida na Literatura Portuguesa.
Hugo Gonçalves e a sua escrita revelam um encontro surpreendente com uma tradição romanesca que já tem os seus pergaminhos e que se revitaliza, no jovem português, com maturidade e criatividade. Em 1985 Tom Wolfe concluiu o seu primeiro romance, astutamente intitulado “A Feira das Vaidades”, onde contava a história de Sherman McCoy, jovem banqueiro e investidor que se vê envolvido nas áreas mais diversas do mundo nova-iorquino, fervilhante de movimento, tensão, agressividade, corrupção e duro materialismo. Wolfe, um jornalista brilhante, colaborador habitual da revista Rolling Stone, autor de alguns livros imprescindíveis para a compreensão da segunda metade do século XX, foi um dos papas do New Journalism e conferiu ao romance a energia de uma experiência directa, musculada e vertiginosa que a América emulara através da obra e da personalidade de Ernest Hemingway. A agilidade narrativa de Hugo Gonçalves e a sua capacidade para prender o leitor poderão, também, ter origem na sua actividade como jornalista ( um outro exemplo em Portugal é o de Miguel Sousa Tavares com “Equador”) mas a sua destreza tem as suas raízes em autores como Bret Easton Ellis – principalmente no “American Psycho” com a sua orgia de celebração do vazio – na obra de Jay Mc Inerney e de outros representantes do Brat Pack. Mas enquanto estes autores afirmavam o seu niilismo com bases psicológicas - enraizando-as na inexperiência da juventude e na negligência dos progenitores – Hugo Gonçalves aproxima-se mais de um autor como Martin Amis, com o seu humor corrosivo e delirante visão da sórdida vida moderna - claramente impressa em "Money. A Suicide Note” (1984), a história de John Self, egocêntrico consumidor compulsivo de cultura Pop, drogas, pornografia e adorador de Baal – e de Don deLillo com o seu actualíssimo “Cosmopolis” , este sim, num registo muito mais sombrio e apocalíptico.
Em “O Maior Espectáculo do Mundo” , Hugo Gonçalves utiliza deliberadamente uma linguagem que vai buscar as suas fontes à representação visual, essencialmente cinematográfica. Na “Apresentação” desenham-se as figuras emblemáticas da história que o autor se prepara para nos contar.
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