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JOÃO PAULO CUENCA UM
DOS 4 BRASILEIROS NOMEADOS,
FOI UM DOS VENCEDORES
DO HAY FESTIVAL BOGOTÁ 39
A literatura latino-americana já não é apenas a da geração do colombiano Gabriel García Márquez ou a do peruano Mario Vargas Llosa. Uma nova geração de escritores está a ganhar reconhecimento na região e no mundo. Por ocasião da Capital Mundial do Livro, em 2007, Bogotá resolveu escolher os 39 melhores autores da América Latina com menos de 39 anos. O resultado foi o Bogotá 39, que aconteceu durante o Hay Festival, em Cartagena das Índias.
O brasileiro João Paulo Cuenca, o argentino Pedro Mairal e o peruano Iván Thays foram três dos autores escolhidos por um júri composto por outros tantos escritores colombianos (Piedad Bonnett, Héctor Abad Faciolince e Óscar Collazos), depois de consultarem mais de dois mil editores, críticos e leitores de todo o continente.
Os 39 "têm talento e potencial para definir as tendências que marcarão o futuro da literatura latino-americana",. Entre os escolhidos há 11 mulheres e o país mais representado (seis autores) é a Colômbia, seguida de Cuba, Brasil e México, com quatro cada. No total, fazem parte desta iniciativa 17 países.
Mas o que os une? "Os 39 têm uma multiplicidade de vozes narrativas e não há uma estética comum", disse João Paulo Cuenca, de 29 anos, o único dos quatro brasileiros escolhidos que não tem um livro editado em Portugal. "Temos todos uma postura mais despretensiosa da literatura, sem ideologias", contou. Para Iván Thays, um dos mais velhos, o que os une é o facto de serem "todos diferentes" e falarem de temas "muito distintos", centrados numa "preocupação pelo mundo moderno". Pedro Mairal, de 37 anos, concorda: "Não há grandes temas nem o desejo de escrever sobre eles. Há muito mais uma escrita sobre a vida simples das pessoas."
As histórias destes três escritores mostram as diferenças que há entre eles. João Paulo Cuenca foi "descoberto" por uma editora depois de publicar um conto numa revista. O seu primeiro livro, Corpo Presente, é um romance fragmentado passado em Copacabana, onde várias histórias se cruzam. Todas as personagem femininas são Carmen e as masculinas Alberto. Já Pedro Mairal encontrou a escrita quando abandonou o curso de Medicina. Sem coragem para contar aos pais, fingia que ia às aulas, e ficava na esplanada a ler e a escrever. O seu primeiro livro, Só Acontece Uma Vez, ganhou o Prémio Clarin e foi adaptado ao cinema. Para Iván Thays, escrever é "uma forma natural de comunicação". O peruano diz que "o leitor que lê muito, desde cedo, irá sempre escrever. É a resposta natural". Acabou o primeiro romance aos 12 anos, mas, como a grande maioria dos escritores do Peru, publicou em edição de autor o seu primeiro livro. As suas obras são metaliterárias e têm como pano de fundo o amor.
O mais importante para estes escritores foi mesmo poderem conhecer-se uns aos outros. "O Bogotá 39 foi uma maneira de saltar por cima das fronteiras territoriais rígidas e estranhas", afirma o argentino. "Eu, por exemplo, estou editado na Polónia e em Portugal, mas não no Uruguai, que fica a 50 km da minha cidade, Buenos Aires." O peruano explica porquê: "Estamos num mundo que nos obriga a ir a um centro antes de voltar à periferia. A única forma de eu os ler é eles serem editados em Espanha."
Para o brasileiro, ultrapassar essas fronteiras ainda é mais difícil, por causa da língua. "Sinto uma falta de integração terrível na América Latina", reconhece, dizendo que o Brasil é um país "grande e um pouco estúpido" porque "se fecha e não dialoga com os restantes países latino-americanos". O seu principal objectivo é ser traduzido para o espanhol.|
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