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sábado, novembro 01, 2008

A 1 DE NOVEMBRO de 1755, aconteceu o TERRAMOTO DE LISBOA

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Terramoto de 1755


O Terremoto de 1755 também conhecido por Terramoto de Lisboa, ocorreu no dia 1 de Novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve. O sismo foi seguido de um tsunami - que se crê terá atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais[1]). Foi um dos sismos mais mortíferos da História, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os geólogos modernos estimam que o sismo de 1755 atingiu a magnitude 9 na escala de Richter.

O Terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e socio-económico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um terramoto numa área alargada, marcando assim o nascimento da moderna Sismologia. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.

O terramoto
O sismo fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro de 1755 às 9:30[1] ou 9:40 da manhã[2], dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. O epicentro não é


conhecido com exactidão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude terá atingido 9 na escala de Richter[1].

Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre Manoel Portal é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terrmoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do sismo e a vida Lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do sismo em Lisboa e no cabo de São Vicente estima-se entre X-XI na escala de Mercalli[3]. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um tsunami, que actualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura[1], havendo relatos de ondas com mais de metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado até 250 metros[3]. Nas áreas que não foram afectadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.


Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o tsunami que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura[1]. As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. As cidades marroquinas Fez e Meknès sofreram danos e perdas de vida consideráveis[1]. Os maremotos originados pela movimentação tectónica varreram locais desde do norte de África (como Safim e Agadir[3]) até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia (através de seichas[1]) e através do Atlântico, afectando os Açores e a Madeira e locais tão longínquos como Antígua, Martinica e Barbados[1]. Diversos locais em torno do golfo de Cádis foram inundados[3]: o nível das águas subiu repentinamente em Gibraltar e as ondas chegaram até Sevilha através do rio Guadalquivir, Cádis, Huelva e Ceuta[1].

De uma população de 275 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram[2], 900 das quais vitimadas directamente pelo tsunami[3]. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por lareiras de cozinha, velas e mais tarde por saqueadores em pilhagens dos destroços[1].


Ruínas do Convento do Carmo, LisboaA recém construída Casa da Ópera, aberta apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço, foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto destruiu ainda as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a Catedral de Santa Maria, e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora e a da Misericórdia. As ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de Nuno Álvares Pereira, nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período Manuelino em Portugal).


O dia seguinte
A família real escapou ilesa à catástrofe. O Rei D. José I e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém, nos arredores de Lisboa, na altura do sismo. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, denominado como Real Barraca da Ajuda, em Lisboa.

Tal como o rei, o Marquês de Pombal, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e futuro primeiro-ministro, sobreviveu ao terramoto. Com o pragmatismo que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a imediata reconstrução de Lisboa. Conta-se que à pergunta "E agora?" respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é provavelmente apócrifo. A sua rápida resolução levou a organizar equipas de bombeiros para combater os incêndios e recolher os milhares de cadáveres para evitar epidemias.

O ministro e o rei encomendaram aos arquitectos e engenheiros reais, e em menos de um ano depois do terramoto já não se encontravam em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução íam adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes praças e avenidas largas e rectilíneas marcaram a planta da nova cidade. Na altura alguém perguntou ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que um dia hão-de achá-las estreitas....

O novo centro da cidade, hoje conhecido por Baixa Pombalina é uma das zonas nobres da cidade. São os primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções anti-sísmicas, que foram testadas em modelos de madeira, utilizando-se tropas a marchar para simular as vibrações sísmicas.

Implicações sociais
O dia primeiro do corrente ficará memorável a todos os séculos pelos terramotos e incêndios que arruinaram uma grande parte desta Cidade.

Gazeta de Lisboa, Novembro de 1755.
O Terramoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país católico, com grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na evangelização das suas colónias. O facto de o terramoto ocorrer num dia santo e destruir várias igrejas importantes levantou muitas questões religiosas por toda a Europa. Para a mentalidade religiosa do século XVIII, foi uma manifestação da ira divina de difícil explicação.

Na política, o terramoto foi também devastador. O ministro Marquês do Pombal era o favorito do rei mas não do agrado da alta nobreza, que competia pelo poder e favores do monarca. Depois de 1 de Novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em 1770) garante-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e consolidar o Absolutismo. Isto leva a um descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de regicídio e na subsequente eliminação dos Távoras. Para além do agravamento das tensões políticas em Portugal, a destruição da cidade de Lisboa frustrou muitas das ambições coloniais do Império Português de então.

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