.
NO TEATRO MERIDIONAL EM LISBOA
NA RUA DO AÇUCAR NUMERO 64
ESTÁ EM CENA ATÉ 19 DE DEZEM-
BRO A PEÇA "BRASIL, CONTOS DE
VIAGEM OUTRAS ROTAS".
O projecto "Contos em Viagem" ruma ao Brasil
A língua portuguesa chegou aos lugares mais recônditos sempre através das águas. Eis por que a actriz Natália Luíza seleccionou os autores de "Brasil Contos em Viagem Outras Rotas"- no Teatro Meridional até 19 de Dezembro - tendo como critério escritores nascidos nos Estados brasileiros nos quais corre o rio São Francisco - conhecido por Velho Chico. "Tive de encontrar um caminho para não me perder entre diversas possibilidades de escolha."
Natália descobriu este percurso no único rio que nasce e desagua no Brasil. Além disso, continua, do ponto de vista da Literatura e da Semiótica "o rio é assemelhado à própria vida. É o caminho da vida que desagua num sítio imenso, que não sabemos onde é. Que ao mesmo tempo é tudo e nada, é o mar".
O rio São Francisco atravessa cinco Estados: Minas Gerais (nascente), Bahia, Alagoas, Pernambuco e Sergipe. A pesquisa literária foi feita com base na pergunta: que autores destes Estados emprestariam a escrita a esta viagem que o Teatro Meridional propõe aos portugueses? Foram escolhidos nove nomes consagrados, mas não foi escolhido um autor do Estado de Sergipe. A maioria é mineira: Adélia Prado, João Guimarães Rosa, Affonso Romano de Sant'Anna e Carlos Drummond de Andrade. São acompanhados por dois baianos: Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro; dois pernambucanos: Mauro Mota e João Cabral de Melo Neto; e pelo alagoano Lêdo Ivo.
A proposta deste ciclo "Contos em Viagem" é fazer uma viagem pela literatura dos países lusófonos. "Vamos passar por muitas vilas pequeninas. Vamos encontrar lugares vazios e diferentes pessoas", diz Natália. A linha que costura os textos, de certa forma, é o humor, sobretudo a ironia. "O humor está lá, mas é uma espécie de ironia cansada" que prevalece.
"Contos em Viagem" apoia-se no trabalho do contador de histórias e no trabalho do actor - dualidade incorporada pela actriz brasileira Gina Tocchetto, que declama e canta o texto (o músico António Pedro cria "paisagens sonoras", com instrumentos como uma pinha amplificada com microfones especiais, um alguidar com água, um tronco de árvore com cordas).
Explica Natália que habitualmente o contador de histórias "tem a particularidade de ter um texto livre, enquanto aqui o texto é condicionado, reveste-se do trabalho do actor". Por outro lado, "há personagens que são sugeridas pelo actor, tal como o contador de histórias o faz". Neste caso, Gina leva-nos "para imensos sítios, porque nos sugere" imagens e diferentes sotaques. "É o tipo de espectáculo em que é exigido ao público uma grande participação, porque há uma parte de construção da personagem que não está lá. Há um gesto, uma sugestão do sapato, de uma bengala. Mas cada um tem de construir a sua bengala, porque ao mesmo tempo que o actor esboça o movimento respeita a literalidade do cada texto".
Para Miguel Seabra o facto de estar a encenar textos que vêm da literatura (feito para ler em voz baixa ou no interior) foi uma dificuldade acrescida, mas a tarefa foi aliviada pela capacidade de Natália torná-los fluidos para o ouvido. "O desafio foi o trabalho cénico de pegar nestes textos excepcionais e torná-los uma matéria de prazer à vista e à escuta".
O projecto "Contos em Viagem", que visa contemplar o universo literário de cada um dos países que se expressa na língua portuguesa, começou em 2006 (Brasil), continuou em 2007 (Cabo Verde) e agora voltou ao Brasil. Terá continuidade em 2011, tendo como fonte literária autores de Moçambique.
Nenhum comentário:
Postar um comentário