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A INTERVENÇÃO DE PORTUGAL NA
I GRANDE GUERRA FOI UM DESASTRE,
A DERROTA DA BATALHA DE LA LYS
ENLUTOU O PAÍS E LANÇOU O DES-
CRÉDITO PELO GOVERNO.
Mas há um episódio que muitos desconhecem
No dia 9 de Abril teve lugar a Batalha de La Lys , na Flandres. O desmoralizado e enfraquecido batalhão do Corpo Expedicionário Português, que se preparava para regressar a Portugal depois de oito meses de inferno nas trincheiras, acabou por ser praticamente dizimado por um ataque alemão. Mais de 600 soldados foram mortos e outros sete mil feitos prisioneiros.
Por cá, os jornais faziam o relato dos acontecimentos com base nos despachos dos correspondentes da Agência REUTERS, do Século e da Capital mas sempre sujeitos à censura militar que apenas deixava que se desse conta dos” feitos heróicos dos nossos bravos”, cortando qualquer referência às muitas dificuldades diárias porque passavam.
- Entre os heróis de 9 de Abril ficou famoso o “Soldado Milhões” que desobedecendo às ordens superiores cobriu a retirada dos seus camaradas portugueses e escoceses quando os alemães se aproximaram da trincheira. Com a sua Luisinha (como era conhecida a metralhadora ligeira Lewis que podia ser operada apenas por um homem) e mais umas quantas que foi usando sucessivamente Aníbal Milhais deu a ideia ao inimigo que ali se encontrava uma unidade inteira que resistia. Salvou muitos soldados e a si próprio. Quando finalmente chegou ao posto dos portugueses já todos conheciam a sua aventura e o comandante do batalhão, João Maria Ferreira do Amaral não hesitou em lhe dizer: “chamas-te Milhais, mas vales milhões”. A alcunha ficou e em vez de ser levado a Tribunal de Guerra, assim que chegou a Portugal tornou-se no único soldado raso a ser condecorado com a Ordem de Torre e Espada.
- Para os sete mil homens que ficaram no cativeiro alemão a vida não foi fácil. Além de estarem num campo vedado com arame farpado passavam fome, frio, eram sujeitos a maus – tratos e tinham de trabalhar. Em Portugal, muitos foram dados como desaparecidos e por isso, não recebiam qualquer encomenda que os ajudasse a minorar o pesadelo. Pior do que isso, relatos posteriores dos próprios referem o abandono a que os prisioneiros portugueses foram votados pelo seu país. Alguns acabariam por fugir para outros países – não raras vezes com a ajuda de alemães – e os que voltaram a Portugal ao abrigo do repatriamento oficial (já em 1920) sentiram que a Pátria tinha vergonha deles e os queria esconder: a atitude era a mesma, das autoridades militares e do Governo ou da população.
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