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quinta-feira, maio 17, 2007

a 16 de Maio de 1977, estreou-se em Portugal "GABRIELA"

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Foi a primeira telenovela brasileira a passar em Portugal, e a mudar os hábitos e o linguajar dos portugueses.
Foi em 1977, a 16 de Maio, e desde então, outras telnovelas vieram e com elas uma nova industria nasceu também entre nós.

SONIA BRAGA , EM GABRIELA

A telenovela ‘Gabriela’ foi comprada em 1976 por Carlos Cruz, quando este desempenhava as funções de director de programação da RTP, mas a estreia de exibição, em 16 de Maio de 1977, ocorreu já sob o mandato de José Nisa.

A proposta partira da própria produtora,

a Globo, e foi transmitida a Carlos Cruz pelo então presidente da RTP, Pedroso Marques. Este género televisivo era totalmente desconhecido entre nós, assim como dos outros países europeus, cujas estações constituíam, à época, monopólio estatal, ao contrário do que acontecia nas Américas.

O historiador José Hermano Saraiva conta à Correio TV que, quando exerceu as funções de embaixador de Portugal no Brasil (1972-74), detectou a novidade. “No Brasil passavam telenovelas admiráveis, como ‘O Bem Amado’ (1973), que eu vi
e que me levou a fazer algumas diligências para que a nossa TV as passasse cá”, afirma. O apresentador de ‘A Alma e a Gente’ (RTP) sublinha que a sua iniciativa foi motivada pelo facto de ter constatado que “as telenovelas brasileiras eram extraordinárias obras de arte e de poderem representar para os portugueses um importante meio de se habituarem à pronúncia brasileira”. Em seu entender, ‘Gabriela’ e outras telenovelas que se seguiram “tiveram como principal efeito o recrudescimento do interesse do público pela TV”.

Também por efeito desta exibição, os romances de Jorge Amado passaram a ser mais lidos em Portugal, com destaque para ‘Gabriela Cravo e Canela’ que nesse mesmo ano de 1977 foi a obra mais vendida na edição da Feira do Livro de Lisboa. A qualidade e o poder de atracção da obra eram tais que o próprio primeiro-ministro de então, Mário Soares, e alguns ministros foram então objecto de notícias que reportavam a alteração, numa ou noutra circunstância, dos horários de exercício das respectivas funções, para poderem desfrutar este ou aquele episódio da original narrativa de Jorge Amado.



O aparecimento da telenovela ‘Gabriela’ em Portugal foi um acontecimento único, a vários níveis. Desde logo, porque marcou a estreia do formato telenovela diária nos ecrãs portugueses. Depois porque, sendo uma obra adaptada de um romance de Jorge Amado, garantia à partida uma qualidade e interesse acima da média (não o sabíamos nessa altura, mas viemos a confirmá-lo posteriormente: ‘Gabriela’ foi, se não a melhor, uma das melhores telenovelas produzidas no Brasil). Depois, tanto criadores e técnicos, a começar pelo realizador Walter Avancini, como o elenco, eram de primeiríssima grandeza, com Sónia Braga, José Wilker, Armando Bógus, Dina Sfat, Paulo César Pereio, Paulo Gracindo, Ary Fontoura, e tantos outros, em plena forma e carreiras ascensionais.

Era uma delícia descobrir estes actores e vê-los trabalhar com o sabor de uma língua portuguesa recriada, reinventada. A história era magnífica, a forma como as situações se multiplicavam e se entrechocavam num modelo criativo brilhante, os cenários naturais espantosos, descobrindo-nos, a nós portugueses, uma cultura e uma civilização irmãs, onde nos víamos igualmente reflectidos com nitidez.

Portugal parava diariamente à hora da telenovela, aqui no RC havia colegas que iam a casa jntar para vêr o episódio do dia, e até no Parlamento se parava mais cedo
nos derradeiros dias da sua exibição, todos os programas se organizavam em redor do episódio do dia – não era alienação colectiva, era apenas o sedutor poder do espectáculo no seu melhor. A sociedade portuguesa transformou-se obviamente assistindo a esta obra: adoptou o sotaque brasileiro como segunda língua, adoptou as actrizes e os actores brasileiros como vedetas indispensáveis em qualquer festejo fraterno, adoptou usos e costumes, expressões idiomáticas, e começou a rebolar a bunda ao som do samba. Calmamente. Ao ritmo nacional.

Depois, houve algumas outras telenovelas que quase roçaram o céu (estou a lembrar-me por exemplo de ‘Roque Santeiro’), mas o milagre não voltou a surtir o mesmo efeito. ‘Gabriela’ foi o estado de graça irrepetível. Como será revê-la, hoje em dia, quase trinta anos depois? Certamente um prazer, mas não um prazer igual ao primeiro. Saravah!

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