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O Povo Português através de uma revolução tranquila afastou um governo fascista que sufocou Portugal durante 48 anos.
Otelo Saraiva de Carvalho por volta das 22 horas do dia 24/4/1974 fardado com blusão de cabedal chega ao Regimento de Engenharia Nº1, na Pontinha. É ali que o major acompanhado de outros oficiais: Os tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Lopes Pires, o comandante Victor Crespo, os majores Sanches Osório e José Maria Azevedo, o capitão Luís de Macedo… Ali instalam o posto de comando num pequeno anexo com as janelas tapadas por alguns cobertores, sobre a mesa uns papéis manuscritos e um mapa de estradas do Automóvel Clube de Portugal edição de 1973 que fazia de carta operacional com os esboços das movimentações, sendo a base do “plano geral das operações” que se dividia em duas zonas; Zona Norte que começava no eixo a sul do Porto e Lamego para norte. Zona Sul desse eixo para sul, dividido em quatro sectores; Sector Norte, até a sul de Coimbra, Sector Centro até norte de Santarém, Sector Sul daí para sul, Sector Lisboa que também incluía Santarém. Dali do Posto de Comando com o nome de código «Óscar» dão o conhecimento da situação e as instruções às unidades militares de todo o país envolvidas nas operações. O primeiro sinal como combinado seria dado pelo então posto “Emissores Associados de Lisboa” às 22:55. João Paulo Dinis era lá locutor e fizera a tropa em Bissau sob as ordens de Otelo, daí a escolha de Otelo. E cabe a Dinis às 22:55 dar voz e escolher a canção « E Depois do Adeus », de Paulo de Carvalho, canção vencedora desse ano do Festival da Canção RTP e que iria a alguns dias representar Portugal no Festival da Eurovisão. A segunda senha é dada na “Rádio Renascença”. Otelo fazia ponto de honra que fosse uma canção do Zeca Afonso e estava indeciso entre «Venham Mais Cinco» e «Trás Outro Amigo Também» eram as suas preferidas mas logo os seus camaradas fizeram notar que seriam canções muito obvias e que iriam suscitar desconfiança. Foi assim que o jornalista Carlos Albino sugeriu «Grândola Vila Morena» e é esta que acaba por ir para o ar no programa «Limite» de Paulo Coelho e Leite de Vasconcelos que antes de pôr o disco recita a primeira quadra de «Grândola Vila Morena». São 0:20 e grande parte das forças envolvidas põe-se em movimento. O Quartel-General da Região Militar de Lisboa é o centro nevrálgico das “Forças do Regime”. O edifício é tomado pelo Batalhão de Caçadores 5 com o código «Canadá». A mesma unidade também se encarrega de proteger a residência do general António de Spínola, o general Francisco Costa Gomes não foi alvo de protecção porque não dormiu em casa. Importante é também o aeroporto da Portela, operação com o código «Nova Iorque» que fica encarregue à Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra que às portas de Lisboa a coluna militar perde-se nas ruas e becos escuros de Camarate. Junto ao aeroporto o capitão Costa Martins esperava a coluna da EPI e desesperava e decide neutralizar sozinho de pistola em punho a guarda do aeroporto e entrou mesmo na torre de controle fazendo «bluff» durante mais duma hora dizendo que o aeroporto estava cercado e para se interditar o espaço aéreo português imediatamente. A EPI chegada toma de imediato conta do aeroporto e ainda neutraliza o Regimento de Artilharia Ligeira 1 em Lisboa junto ao aeroporto. A Escola Prática de Transmissões fazia as escutas telefónicas militares das forças do regime que depois transmitia ao Posto de Comando. O Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz vem a Lisboa com a missão de controlar a Ponte Sobre o Tejo, tomando posições do lado sul do Tejo (Pragal). Enquanto nas colinas adjacentes à ponte de ambos os lados a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas toma posições apontando baterias junto ao Cristo Rei, para o Terreiro do Paço e Monsanto. A mesma unidade depois vai lá baixo à Trafaria libertar os militares que tentaram a 16 de Março o “golpe das Caldas da Rainha” e que se encontravam presos na Casa de Reclusão da Trafaria. Os órgãos de comunicação social também eram de crucial importância controla-los. Para isso coube à RTP (única emissora televisiva da época) ser tomada pela então, Escola Prática de Administração Militar, (operação; código Mónaco) já que se situava na mesma rua, (Alameda das Linhas de Torres em Lisboa). A antiga Emissora Nacional, actual RDP na rua do Quelhas foi tomada com meios limitados pelos capitães Oliveira Pimentel e Frederico de Morais mais 40 praças de especialidades diversas do Campo de Tiro da Serra da Carregueira. Na rua Sampaio Pina à porta do Rádio Clube Português estão estacionados homens do BC5 dali perto (Campolide) chefiados pelo capitão Santos Coelho e pelo Major Costa Neves da Força Aérea o qual no momento da tomada do RCP é questionado pelo porteiro; se não podiam aparecer após as 9 horas da manhã, que sempre já lá estaria mais gente para os receber!!! Costa Neves e seus camaradas forçam a entrada e é esse o posto escolhido para emissor do MFA. Como previram que as forças do regime pudessem cortar as ligações às antenas do RCP do Porto Alto, tal como vieram a tentar, então a guarda das antenas ficaram a cargo da Escola Prática de Engenharia, de Tancos que também controlou a ponte de Vila Franca de Xira e a casa da moeda em Lisboa. Então através do RCP o MFA apresenta-se ao país pela 1ª vez às 4:26 (estava previsto ser às 4 horas mas o engano de percurso da EPI em Camarate atrasou o comunicado) a voz é do jornalista Joaquim Furtado: «Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas...». A programação é alterada e passa o hino nacional, marchas militares e canções de protesto e de contestação. Sucedem-se os comunicados escritos por Victor Alves e Lopes Pires no quartel da Pontinha, que eram lidos aos microfones do RCP. Mediante esta situação os ouvintes ficam a par do desenrolar dos acontecimentos. Mas a missão principal cabe ao capitão Salgueiro Maia e seus homens da Escola Prática de Cavalaria, vindos de Santarém ficam-lhes encarregues várias acções desde de “despiste” ou seja; chamar a atenção das forças fiéis ao regime através dum itinerário ostentatório no sentido de dispersar as capacidades inimigas. E ainda de controlar o Banco de Portugal, a Rádio Marconi e o Terreiro do Paço. Ali, o ministro do Exército, general Andrade e Silva perante a situação manda abrir à picareta um buraco na parede do gabinete por onde foge mais os ministros da Marinha, da Defesa e do Interior acompanhados de militares de altas patentes. Antes do golpe a Marinha e a Força Aérea haviam sido contactadas para aderirem mas garantiram a neutralidade. Mas o capitão-de-fragata Seixas Louçã que comandava a fragata «Almirante Gago Coutinho» integrada na NATO e com grande poder de fogo, resolve, ameaçar disparar sobre o Terreiro do Paço. Ao que é posta ao corrente das baterias de artilharia, já prontas a disparar, posicionadas nas colinas junto ao Cristo Rei. A tripulação ao saber rebela-se e ao fim da manhã a fragata retira-se e vai fundear-se no Alfeite. Momento importante, quando a coluna EPC é interceptada na Avenida Ribeira das Naus por tropas fieis ao regime comandadas pelos brigadeiro Junqueira dos Reis e o tenente-coronel Ferrand d’Almeida, com tanques Patton M47. É o próprio Salgueiro Maia que vai tentar dialogar, saindo a pé e de lenço branco na mão hasteado e uma granada escondida na outra, ao que o brigadeiro dá ordens para disparar sobre o capitão mas que ninguém obedece! E depois mesmo alguns tanques de Cavalaria 7 passam-se para o lado de Salgueiro Maia. Outro momento muito importante dá-se às 5 horas quando o Major Silva Pais director-geral da PIDE/DGS dá conhecimento ao presidente do Conselho (função que equivale actualmente à de primeiro-ministro), Marcello Caetano dos acontecimentos que este ainda desconhecia. Referindo que a situação era grave e dando instruções para se refugiar o mais depressa possível no Comando-Geral da GNR no Largo do Carmo porque era um dos sítios que não se encontrava sitiado e que passava mais despercebido. Mas que veio a revelar-se uma grande armadilha! Primeiro porque soube-se da sua entrada no Quartel do Carmo às 6 horas, ao que o major Otelo deu ordens para Salgueiro Maia se dirigir para o Largo do Carmo e sitiar completamente o quartel para que não houvesse fugas pelas traseiras. Na ida da coluna de Salgueiro Maia para o Largo do Carmo, uma companhia do RI 1 comandada pelo capitão Fernandes tenta bloquear a passagem mas após curto diálogo, passam-se para o lado dos revoltosos. Embora em telefonemas mais tarde tentassem convencer Otelo que Caetano não se encontrava lá mas Otelo sabia que era para as forças do regime ganharem tempo. E segundo porque quando as individualidades mais importantes ligadas ao regime foram socorridas pelo ar, por um helicópetero como no caso do Regimento de Lanceiros 2, esse mesmo helicópetero tentou ajudar a fuga de Marcello Caetano, só que não havia sítio para o helicópetero aterrar e por isso Marcello Caetano receoso permaneceu encurralado no Quartel do Carmo com blindados apontados e ouvindo uma multidão crescente que tinha acordado dum sono profundo ou que tinha aprendido ou descoberto nesse dia que existiam outras coisas como democracia e liberdade… E gritavam: Por vingança e palavras de ordem contra a ditadura e guerra colonial e outras coisas. Salgueiro Maia depois terá mesmo pedido calma ao povo de megafone em punho. Mesmo que o regime não caísse as coisas já não seriam mais como antes, o povo nesse dia tinha ouvido coisas novas e ficou a saber em que tipo de regime e que tipo de politicos governavam o país por isso aderiram de imediato ao Movimento das Forças Armadas! O tempo passava a GNR não reagia numa tentativa de ganhar tempo. Maia dá um ultimato à GNR mas nada! No Posto de Comando desesperavam e Otelo envia um bilhete escrito a Maia: «Com metralhadoras rebenta com as fechaduras do portão, que é para saberem que é a sério!» Ás 15:10 são dados 10 minutos. (Temia-se que um helicópetero afecto às Forças do Regime podesse largar uma bomba sobre as forças revoltosas no Largo do Carmo). Após o prazo esgotado, às 15:25 as metralhadoras duma viatura
chaimite disparam contra a frontaria do quartel. Como não houvera reacção da parte do quartel, passado algum tempo um blindado toma posição de canhão apontado e é nesse momento que surgem dois civis: Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora, quadros da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, medianeiros entre Spínola e Caetano, este último melindrado com a situação dizia: «Não quero que o poder cai na rua». Feytor Pinto telefona a Otelo que em nome do MFA, mandata o general Spínola para receber a rendição de Caetano. Às 18 horas, chega Spínola de automóvel com farda Nº 1. Caetano submete-se e entrega a Spínola o poder e pede protecção. Spínola transmite a Caetano a intenção do MFA de o enviar para o Funchal. (Iria partir para o Funchal no dia seguinte pelas 7horas, a ele juntaram-lhe também entre outros o Presidente da Republica Almirante Américo Tomás que durante a longa noite da revolução não deu sinal de vida, como se não fosse nada com ele, passou o dia na sua casa no Restelo, saindo sobre escolta para o aeroporto). E assim às 19:30 sai do quartel o chaimite «Bula», no interior vão Marcello Caetano e António Spínola em direcção à Pontinha, por entre uma multidão eufórica que celebra a “Liberdade” com cravos vermelhos. Às 19:50 é emitido o comunicado: «O Posto de Comando do MFA informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Excelência o Professor Marcello Caetano apresentado a sua rendição incondicional a sua Excelência o General António de Spínola». Logo após as 20 horas é lida no RCP a «Proclamação do Movimento das Forças Armadas». E à 1:30 já do dia 26/4/74 aparecem na televisão as novas caras do poder: A Junta de Salvação Nacional, como presidente, António de Spínola, em que lê uma proclamação ao país: …Um novo regime… A democracia, a paz.
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